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A RESPEITO DAQUELES DIAS A verdade é que as pessoas não sabiam nem poderiam imaginar que dentro daquele quarto - eu - estava a conspirar uma revolução... Enquanto meu coração ladrava e chorava dentro daquele ínfimo quarto estourava uma insurreição de Poesia dentro do meu coração.
O SOLDADO ENCARNADO Marche, senhor Silvestre! com teu passo claudicante com teu joelho cansado com teu cérebro metamorfoseado                                           em flor. Marche!               com teu coração costurado às pressas                com o alto do teu crânio desprovido de pelos,                                          marche! Acaso não percebes que o teu coração também marcha?                             muito embora não saiba para onde vai, o soldado                                         encarnado                                      marcha...
SOU CARNE enquanto meu sangue flui  nos encanamentos do meu corpo sei que sou carne porém  como as águas passo indiferente                   e adaptável à forma mutável das coisas instáveis.                               o que faço                               entre pessoas e coisas?                               ora...                                eu passo entre elas.
pelo o que obrei em toda a minha vida? por que motivo causa razão ou circunstância ousei levantar o meu crânio como fosse um                                             girassol oxidado contra a fuligem dos dias? e por que deixei que o meu coração solitário choramingasse lenta e                                    pa-                                    ciente-                                    -mente! na caverna óssea do peito? somente para escrever um poema a mais? Não! não... eu estando aqui ou não inevitavelmente os poemas viriam a Poesia encarregaria um outro ser                                      de os escrever! escrevi sobretudo para me manter vivo,                                                         e são,                                                      é claro! fazer com que os meus poemas desaguassem sobre estas várias páginas arrancadas era a minha forma de rebelião contra a escravidão-solidão que se depositava como fuligem em tudo      
ser insistente, não como o mar que há muito se precipita sobre as areias das praias. mas, sim, ser resistente como as areias das praias que há muito resistem às dilacerações do mesmo mar.
Na natureza-morta a aranha solitária tece a sua teia em pequenas flores de cores amarelo e vermelho, postas em um pote d'água por minha avó.
Os idiotas                 não                        se                            desesperam... enquanto os meus ossos fremem ou tremem num tipo de inquietação infantil... pois quanto mais naufrago nos dias nos anos no tempo na vida quanto mais a fuligem dos dias se deposita sobre a cal                                      dos meus ossos quanto mais sei que "tudo dói" mais a frase-pensamento-poema-estrofe- -diadema-verdade-pessoal-universal que trago no antro do crânio  escrita por Roberto Piva  se destaca como um letreiro descomunal em cor vermelho-vermelho na noite da minha vida                       que diz:                                    "Não há cura                     para a minha                             inquietação sem nexo."
caminho sob a fuligem dos dias com fúria e ferrugem nos ossos nestes dias ainda mais furiosos. haverá luz nestes dias fuliginosos?                      onde?                      em que parte                      a encontraremos?                      será que ela                      renascerá                      mais uma vez                      do ventre das artes? é triste porém necessário que os dias se tornem ainda mais sorumbáticos... só assim a luz brilhará e resplandecerá uma vez mais no interior de nossos olhos. porque no momento é como se estivéssemos mortos!
Eu, que chorei pelas mariposas que tiveram suas asas arrebatas, com elas me identificava, pois, me sentia qual um anjo que tivera as asas abrasadas pelo mistério do fogo.
quando minha mão de poeta desabrochou na ponta hasteada do meu braço mudei para sempre o ritmo do meu passo e fiz da noite que desde criança                                          foi minha namorada a minha própria morada. eu que imerso nos charcos e nas solidões pantanosas da vida                               coaxei com os sapos guardei o cintilar das estrelas na imensidão de meus grandes olhos e adquiri a sabedoria da boca adunca de corujas misteriosas. a noite que sempre foi o manto onde naufrago o meu pranto. a Noite que durante o dia misteriosa e silenciosa me aguarda do outro lado do globo                       jamais me abandonará ao deus-dará. tampouco                a Solidão que é tão misteriosa porém            mais criteriosa que a Noite e escolhe            a dedo aqueles de quem deseja a compa-                                                                     nhia.
o relógio a porta o mar o punho cerrado a pálpebra o coração                bate! cada um em seu devido                tom em seu devido               tempo em seu próprio               ritmo...
o gosto de ferro oxidado          no interior da boca amarga             não só a boca mas uma existência inteira que é             aparentemente oca!
o que cintila       em mim agora não é          a vida. o que cintila        em mim agora      é a ferida a     b     e     r     t     a em carne viva sobre a carne da (própria) vida.
ESTE NÃO É UM POEMA DE AMOR os arabescos invisíveis que desenhei com os fios dos teus cabelos estão marcados sobre a tua carne que agora se deposita e existe tão longe de mim... enquanto outros dedos brutos e obtusos te percorrem passo pela vida existindo bastante fantasmagórico sem carne sem vida vagando pelas esquinas                            enquanto outros dedos brutos e obtusos te percorrem corro para as putas que me socorrem e os dias rapidamente escorrem. PORÉM... o canto delas não é tão harmonioso                                      - quanto o seu! nem o sorriso delas é tão maravilhoso                                       - quanto o seu! tampouco os olhos delas são                                         tão                  belos                         quanto                                   os                                      teus                                           olhos                                                  ateus.
ROCIO DE TRISTEZA No fim desta tarde há um tom de branco violáceo no céu recamado com nuvens sorumbáticas que se movem carregadas de chuva.                 Este rocio de tristeza goteja dos céus os fios lá fora estão levemente molhados as luzes dos postes recém-acesas me observam noite após noite a sucumbir na fuligem dos dias pelos quais resvalo como fosse um falo de um mui antigo cavalo.
nas trevas aranhas como senhoras mui dedicadas tricotam suas teias tagarelando sem voz umas com as outras sobre o destino iminente de cada homem e mulher do planeta. as aranhas tramam tramam tramam tricotam e tecem sobretudo quando anoitece porque é quando homem adormece que elas sorriem e aparecem com seus muitos olhos com suas várias pernas com as muitas coisas que se movem dentro da escuridão. menos os muitos móveis dentro dos muitos imóveis que nunca se movem mesmo ao mais triste dos prantos. as aranhas sorriem nos seus cantos sinfonizando suas teias até mesmo nas cadeiras esquecidas por sobre as areias.
a lama púrpura do meu sangue dentro do meu organismo flui e como poeta e mago da ressignificação prossigo o meu destino construindo o caminho com tijolos feitos por minhas próprias mãos                     enquanto isto sucede em meu peito pulsa uma pedra escarlate                     às vezes com certa repulsa...
É madrugada... estou aqui cogitando: se houvesse como depositar toda a minha tristeza na ponta da minha caneta não sobrariam folhas de papéis secas na droga deste planeta. quem sabe isso pudesse tingi-lo com alguma beleza!
FLORES SEM CORES flores lívidas tombam das copas das árvores como fossem as melindrosas pétalas invisíveis do meu coração que ressequidas                           caem sobre a estrada da vida.
NA PENUMBRA contemplar o rosto dela na semiclaridade era tão bom... tenho de prosseguir acreditando que vislumbrarei mais uma vez a luz daqueles olhos.